08 setembro 2011

Excerto de Raiva


O desejo encolhe-se à medida que o drama sobe de tom. Estou zangadíssima. Afogo-me em garrafas de vinhos caros e penso viva o luxo! A luxúria repudia-me e não consigo de deixar de pensar em ti. Estou zangadíssima connosco. Obriguei-me a enfiar-me em livros à conta disto e agora desatino a escrever como o Pessoa, em pé. E só me apetece pôr pontos de exclamação nas frases todas que escrevo. Devia ser crime escolher não amar, não ser feliz. O defeito é do foram felizes para sempre. Nunca é assim. Há que reinventar o amor a cada segundo. Custa, muito mais quando se trata de alguém tão obstinado, como eu. Ou então, como tu.

O mistério adensa e ponho em causa a tua sanidade mental. Imagino entrar contigo no Magalhães Lemos e deixar-te lá, dizendo afirmativamente a tua loucura aos outros.  Todos encolheriam os ombros e diriam é uma pena. E eu ficaria assim resignada porque parece mal ter sentimentos puros e forte por uma pessoa com tal patologia mental – a Psicose. É que amar alguém que sofra de falta de carácter é comum neste País, sabes? E depois todos têm pena é de quem ama. O grave é que não te encaixo nem como louco, nem como alguém com carácter a menos.

Já se escreveu muito sobre situações assim, como a tua. Criam-se facções, partidos políticos e de repente esbarro-me entre Freud e Darwin. Por tua causa. Não estou nada contente e dói-me a cabeça de tanto pensar. Tudo ou nada, dizemos. Quem diz primeiro? Para mim és tu e com isso fico enjaulada numa coisa metálica e brilhante sem saída. Não há entradas? Há sim. Foi aquele olhar que pousaste sobre mim, naquela noite, com aquele frio nos meus ombros. Mas tu, não satisfeito com o meu ar assustado e giro, fizeste-me uma música. Não, pessoas como tu, tão básicas não fazem músicas assim. Plagiam-nas! Concluo que a plagiaste de mim. Por que eu é que sou a dama-aflita e meia suspirante e tal, que flutua sem pousar no chão. Eu é que esvoaço, qual Fada da Europa, única e irresistível, armada em mulher-fatal, mas que se ri histericamente ao contrário da aquela personagem do cruzar de pernas mais famoso do Mundo (que de resto imito na perfeição das minhas belas pernas).

Estou zangada contigo e comigo. Contigo porque não estás aqui, comigo por que nunca te digo estas coisas. Contigo, novamente, por que não me dás espaço para tas dizer e comigo por não ser como tu que, de repente me atiraste com a música para as mãos. E, já supões, que volto a estar zangada contigo por me fazeres uma coisa tão perfeita e comigo por ser essa mesma música – alguém que cai de quando a quando, apesar do ar de Fada, lá vem o Reininho que percebeu que por dentro dela há calor, uma alma.

Não choro por tua causa. Choro, às vezes, por ser assim – o Trágico! Não consigo aceitar como uma coisa tão boa, tão bonita, tão cheia de graça e insensatez pode ser tão trágica. Pois, meu Honeyboy, o drama começa em ti. O meu papel é dizê-lo. Há imperfeições e estou formatada para as anotar. Fui feita assim, por que tenho uma mãe que sempre me disse para eu ser a mais bela Fada do Universo, mas que nunca me esquecesse de amar logo pela manhã cedo. Começo sempre por mim. E é por isso que gostas de mim.

Tu silencias-me. Negas-me. Calas-me com a mania que sabes tudo. Desisto de te contrariar, mas faço escarninho de ti, o que te irrita solenemente, por que não é possível que eu tenha um pingo de razão. Isso tem de ser papel teu, não da menina que todos querem tocar. Mas volto, e rio-me ao ver que me mandas excertos da Wikipedia sobre temas de Psicologia. É sem dúvida uma arrogância tão descarada, que me embevece. E zanga, obviamente. És cheio de defeitos, credo! E eu continuo a gostar de ti. Mas estou terrivelmente zangada contigo que se pudesse batia-te com muita força.

Não queria ser a Fada que voou. Mas tu sopras e dizes Fica. Não queria que a nossa história fosse uma banalidade com cheiro a álcool e a pecado. Mas se tu não vens e me ouves e me vês e definitivamente me compreendes… é isso que nos vamos tornar. E eu não quero e recuso-me. E se for assim, por ou para ti, eu deixo já de gostar de ti e não escrevo mais livro nenhum e nunca mais bato palmas aos teus acordes.

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