30 novembro 2011

A Dangerous Method


A Psicanálise que tão familiar me é. Foi arrepiante ver este filme. Freud aparece tal qual como o imagino. A teoria nasceu tal qual a desenvolvo no meu divã. Ao ver este filme depreende-se melhor os conceitos que são explorados na busca do que a Psicanálise se propõe - a busca da Verdade Interna. Definida a cada momento, até que se esbarra nalguma coisa que nos escara a alma, o gesto, o semblante e a Vida.

A genialidade destas mentes - Dr. Sigmund Freud, Dr. Carl Jung (mesmo sendo um filisteu, egoista e cobarde, nos seus pessoais passeios) e Dr.ª Sabina Spielrein - faz parte do método perigoso que eu própria experimento. Perigoso por ser difícil descobrir assim a Verdade. Sem que essa seja absoluta, cega e dogmática. Igualmente perigoso por ir para dentro, tão fundo, desenterrando tudo, remexendo a psique e a história. Acrescento e renomeio. Perigoso por que para a maioria das pessoas os espelhos são impossíveis. Para a minoria, deixam de ser assim, passando à dificuldade, viver no perigo de nós mesmos... Até que faz sentido.

Comoveu-me. E nada tem de ver com a religiosidade das Ciências. É assim. Quer se queira ou não. E, sim, por razões óbvias, estas e outras, é lento. Perigoso e lento. Mas libertador e que se entranha.


29 novembro 2011

de costas, para a frente


A propósito do aniversário do meu melhor amigo, tive de comprar um bolo. Geralmente, quando se adquire um bolo, numa confeitaria de pessoas amáveis, onde às vezes se almoça, devido aos atrasos que me fazem gozar, dão, junto com o mesmo as velas. Mas ontem decidi fazer o oposto. Comprei as velas. E depois o bolo. Queria que as velas dissessem o número de anos que ele fez. 

Dirigida à prateleira das velas e afins, as opções eram várias. Ainda olhei para as velas em forma de número. Achei-as muito infantis. Depois dei mais uma vista geral à bancada. Distrai-me com os balões e um sem número de coisas com que se podem enfeitar os bolinhos de aniversário. Passou-me pela cabeça trazer aqueles palitos que se acendem e fazem um pseudo-fogo-de-artificio em micro-mundo, o do bolo, fogo esse decididamente inocente. 

Acontece que me lembrei que estava no supermercado, por ter sentido um braço de alguém roçar nas minhas costas. Se há sitio onde não pertenço, é em supermercados. Farta de lá estar, só por ser assim, olhei para as típicas velas e procurei: quatro e zero. 40 Anos, data assinalável, com direito a números vermelhos estirados em branco. Vela típica. Simples. Sem margem para enganos. La fui eu para a caixa. Claro que a caixa que escolhi entupiu. A senhora caixeira decidiu fazer contar e tirar tickets mesmo antes de me atender. Já nem dá para comentar. Distrai-me novamente. 

Chicletes, drops coloridos de chocolate, gomas, rebuçados, velinhas da Paz. Arre, velinhas da Paz porquê? A Paz compra-se? Desconhecia que assim seja. Ou será a Paz um conceito negociável, agora em forma de velinhas? Tudo tem um valor. A Paz, pelos vistos, vale um euro e ainda levamos uma velinha, feia e parola, para casa. Muito bem.

De volta ao fabuloso mundo do supermercado, lá passaram as velas e o resto que comprei. Paguei e fui indo. Em busca do bolo. E que giríssimo bolo consegui aquelas horas. Deixei-o lá na promessa de o ir buscar ainda mais tarde. E fui. Orgulhosa com o bolo e com as velas. O meu melhor amigo e os seus 40 anos. Fantástico. Se há coisa que me anima é dar os Parabéns às pessoas. E carregar bolos perfeitinhos.

Amigos, risos, cigarros, sumos, comida. Estórias. Não estava frio nenhum lá em casa do meu melhor amigo. Estávamos confortáveis. E ele fazia 40 anos. Proficiência. E uma dose de adolescência. Cordões desapertados sempre. Hora do bolo. Lá vem ele, escadas abaixo. Lá vou eu apresar as velas do fundo da minha mala. Já na minha mão, perfeitamente embutidas nuns plásticos que tive de serrar com uma facada, após um ataque de barafunda mental muito pessoal e que tem sido hábito. Acometimentos de dislexia, dislalia, sei lá. Tudo junto. Consigo as velas. Tudo à espera das velas.

Não podia acreditar! As velas, por sinal, uma delas não tinha um quatro, mas sim um grandioso três. Três? Como três?  Acto falhado? As distracções não são por acaso, bem sei. Nada se verifica à toa naquilo que fazemos. Então o meu melhor amigo faz 30 pequenos anos? Ou sou eu que estou egoisticamente ansiosa de lá chegar? Dúvidas, muitas dúvidas. Parece-me estar a arremessar piadas sobre mim, encalhada entre o agora e o depois de alguma coisa, sem urgência. Sim, egoisticamente falando e sentindo, ao menos é sem olhar para trás, sem abrir cartas que acorrem de avião, especulando autos e discípulos. E se é egoísta é por dever precisar que assim seja. E se foi precisamente com o meu melhor amigo e os seus 40 anos é por sentir um conforto tão grande que me posso atirar de costas, para a frente, que ele não me vai deixar esmurrar coisa nenhuma.


Parabéns Kiks!

28 novembro 2011

citações

lovernotte

http://wieczyslaw.soup.io/post/151674115/Image


A love-hate relationship; a couple that is discretely 100% meant to be; a situation when two secret lovers act like they hate each other; an immature relationship
http://www.urbandictionary.com/

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26 novembro 2011

Eu também te escrevo cartas


- Ana Luísa, anda comer?
- Não, a menina quer ovos batidos no chão.
- A tia faz…
- Não quero. Tem de ser a Paula.

Era mais ou menos isto. Recordo-me perfeitamente. Os ovos batidos no chão. Vá-se lá saber porquê a nomenclatura que lhes dei. Nunca te vi pôr comida no chão. Havia de ter algum sentido, para a Ana Lu, a vossa menina, quem tanto aguardaram. O que vocês conseguiram foi dar-me uma carga de responsabilidade para o resto da vida. Aceito-a de bom grado. Acho que tenho correspondido àquilo que esperavam de mim.

Tu, Paula, esperaste demais. Esperaste que eu cumprisse o que sentes não ter cumprido. Muita coisa, está feita. E com certeza, edificarei muito mais daquilo que projectaste. Se vou conseguir ser escritora de verdade? Não sei. Tanta gente escreve. Mas vou tentar a sorte, trabalhando sobre os sentimentos. A mediação desses, como os sinto na alma. Sim, tens um dedo muito grande nisso. Ocorrem-me imagens que guardo e visito mais vezes do que possas imaginar. Mas ser a menina mais feliz do mundo? Ena, já fui. Já não posso ser. Sou mulher. A menina… olha, dançou.

Balão enorme, com bagos de arroz dentro, que faziam uma música perfeita, em casa da Avózinha, num dos nossos Domingos longos. Eram tão grandes os Domingos. Saias para namorar. Eu ficava com o teu irmão João, a Vera, a Ana Isabel (mais tarde o meu irmão). Eram as aventuras mais divertidas, engendradas pelo João. A Vera punha alguns limites, e ainda bem. Nós cumpríamos, compelidos nas peripécias desenhadas, sempre diferentes. Havia tanto mimo. Havia e há. Somos gente de uma capacidade incrível de elogio fácil a quem amamos. E nós, porra, que coisa invencível.Tornando, ao fim do dia, era tempo de ovos batidos no chão. Melhor desfecho, não podia ter. Garanto-te que sentia aquilo como triunfal. Sabes porquê? Sem saber, sem ter noção da adjectivação, da língua Portuguesa, sentia um orgulho enorme em ser a tua menina.

Lembro-me da praia de Nazaré. Do cheiro dos teus cremes, das tuas pinturas, dos teus colares e vestidos. Depois de tantos preparos, íamos pela rua. Eu não me separava dos meus óculos amarelos, casaquinho de ganga e a minha mão na tua. Consigo sentir aquela força, de criança de 4 anos, que caminhava com a certeza de não sei o quê.Mas era uma certeza. E era leve. Retenho tantas memórias. Sinto que é um dom recordar com tamanho viço esses tempos.

Mais arrojados eram os momentos nas ondas. Numa mão ias tu, na outra a Lili. Aprendi a saltar ondas enormes, com as duas. E oh que duas. Sabes o que é sentir que nada de mal me podia acontecer se pelo menos uma de vocês estivesse ali, na minha pele? Também levei com uma e cai. Só não fui mar adentro por estar lá o sempre atento António Vale da Cunha, meu Padrinho, mestre de peças de arte talhadas, corajoso ex-militar das Forças Armadas, benfiquista até ao tutano (tínhamos de discordar em alguma coisa), com uma afectividade de arrepiar. Bem-haja.

Mas o que mais me acode a alma, sem margem de erro, é o teu sorriso. É inesquecível. Coroava a silhueta graciosa com que te passeavas na vida, passando como se nada fosse. Agora ias de mão dada com a nossa menina. Devias ter aprendido tocar piano. Que mãos tão lindas. Como era que eu dizia? Qui lindo Paula, qui lindo.

Acode-me à alma esse desenhado. Sorriso tão puro, Paula. Tão meigo e forte. E às vezes irrito-me contigo, agora que já sou grande, por ter saudades da mão forte. Se calhar herdei-a. Tento dá-la à Marta, que não escreve mas pinta. Não te zangues tanto com ela. A Marta és tu e eu. Ela é que ainda não sabe bem como lidar com isso. Acho-lhe graça.

Por tudo isto e muito mais, principalmente as conversas intermináveis, as viagens de carro de um lado para o outro, reflexões, cartas e contos, sonhos e pesadelos, abraços e dores, risos e Natais… Podia escrever sem parar. O que nos falta viver mano a mano? Já perdemos tanto. Que terrível mania que os seres tem em ficar a olhar o que se perdeu. E o que ganhamos? Tu sabes isso? Posso exigir de ti? Não, não é tudo ou nada Paula. Sou eu que sou assim, exigente, não fosse eu filha da minha Mãe. Fibra, coragem! Ela diz. Vê-se nos seus olhos. Posso exigir de ti?

Paula, se eu tivesse um livro das pessoas da minha vida, tu estarias no topo da primeiríssima página. Sei que isto que digo é importante. Que tem dimensão. Por isso, reivindico de ti, no meio de tanta porcaria, principalmente desse diagnóstico que odeio, mas que é teu. Tenho de demandar que não deixes passar nem mais cinco minutos sem fazeres o exercício de perceber que se te orgulhas de mim a culpa também é tua. E pronto, viste? Há culpas bem porreiras.

O resto… digo-te num abraço.

Amo-te e agora também te escrevi uma carta.

Ana Lu

25 novembro 2011

POW

Hoje levei porradinha da velha. Autch!

Com ou sem idealização, com mais ou menos lirismo, desceu sobre mim um discurso tão verdadeiro como implacável. Não tem mal. As verdades são para ser ditas. E de resto eu já sabia daquilo tudo. Mais, até tenho alguma estima por tais ditos. No entanto, autch!

É difícil largar o baú, o que não comprei. Apenas aquele que rumou à minha encosta. Pesado de tão cheio, permite-me sonhar e depois, porradinha da velha.

Como, apesar de andar quase com palitos nos olhos, impedindo que se cerrem enquanto trabalho, ando irritada com tudo o que grita e/ou chia, apetece-me dizer ups, nada a fazer. E é o que digo.Não me posso irritar comigo mesma. Era o que havia de faltar. Andei durante tempo a mais nessa brincadeira. Os outros ensinaram-me que não é assim. Culpa-se é o que está do lado de fora - a menina armada em perfeita, o chefe, o tempo, o governo, o mundo ser redondo. Mas a nós mesmos!? Ai isso é que não.

Vou voltar a ser responsável só para 2012. Anunciarei o mês depois. Para já, não tenho espaço para abrir baús que dão à costa. Muito menos para os largar.

Ana

24 novembro 2011

Mae West got it




nunca antes fez tanto sentido.

coisas mais densas

tentar a concentração em coisas mais densas, no meio de tantos afazeres, faz com que posts no blog sejam mais curtos e que as datas se prolonguem por aí adiante. 

as coisas mais densas dão mais que fazer, mais que pensar. mas, deste lado, tenta-se. não me parece que vá sair um conto de fadas. nem um tratado sobre a beleza da vida. essa está dura. não  creio que seja necessariamente mau, isso. não é? 

as horas não chegam. 
a cama está apetecível embora não esteja aquele frio de fazer bater o dente. 

ainda não disse, mas estou farta de agências de rating e de pessoas com queixumes acerca de tudo e mais alguma coisa, que de tanto se queixaram, esquecem a tentativa de encontrar soluções que lhes sejam eficazes.

só preciso que o meu computador não me dê a facada e avarie de vez.

http://www.flickr.com/photos/runatasha/5260019209/sizes/m/
disso, memórias em frente aos olhos, dos óculos de sexy-fashion-nerd, paciência para não me pôr aos gritos, horas vagas, chocolates, ausência de cãibras nos dedos das mãos, ou dos pés, escuta interna, cadeira, sofá, café, ou chá, tangerinas, cachecol preto de lã grossa  e tal e tal e tal, etc.

mais não digo.

quer dizer. preciso de uns Louboutin, pretos, se faz o favor.




Ana Lu, a que está a tentar

21 novembro 2011

Fausto... Fausto Bordalo Dias


Que bom é ouvir o Fausto de 2011.









Gosto do Fausto e da Trilogia. É bom saber que anda gente "Em Busca das Montanhas Azuis" e que o torna público a 21 de Novembro de 2011.









E  não é que esta Trilogia foi encetada no ano que nasci? Muito bom, recomendo que se ouça e se experimente pôr o corpo em pé, solto, ao som desta magnífica sonoridade, de alguém (que é o Fausto, não esquecer) que tem de ser enaltecido na música nacional.



(in) travessia do neo português reinventado e ainda velho



Só nos damos conta das escolhas erradas quando estas já estão consumadas. É o risco que se corre. No entanto, existem ponderações que tomam posse das nomeações que podemos levar a cabo. Nada é absoluto. Só me apraz dizer um ainda bem gigantesco. E assim a vida continuará sempre a causar-me espanto e vertigem.

O que é chato é a rapidez, que também provoca vertigens indelicadas, por sinal. A rapidez leva ao e de repente e já nem se sabe muito bem como separar a vertigem própria da vida (a qual agradeço aos deuses), da acritude que é de repente já não ter capacidade de tomar rédeas de coisas que também são indubitavelmente nossas. 

Remédios, sejam eles de pôr debaixo da língua ou de injectar via intra-venosa, têm de ser tomados. Ou barcos que se apanham. Relembra-me a visita àquele estranho e fenomenal, até imperioso, jardim, de alguém que já se foi e que partilhava o epíteto do meu nome. Suspeita-se que era Maçom. Desci um poço espiriforme e havia dois caminhos, sombrios, mas apenas de luminosidade. Segui pela esquerda e eis que me deparo com uma representação de um quase quase rio – o Letes, o do esquecimento. Não dava para trespassar. Pelo menos eu não o fiz. Porque não era possível. E de resto, o outro trilho dá para a continuação do enigmático jardim, cheio de mistérios encantadores. 

Histórias, estórias e historietas à parte, o Letes será impossível de transpor e agora repetindo-me ainda bem. Dá para libar então o vislumbre de que existe um local de esquecimento perfeito, que está tão longe que é inalcançável. Essa ideia hoje soa-me bem, sabe-me a mel, está num nevoeiro quente. Reconfortante. Ilusão ou não, não me importa, não me interessa minimamente. É demasiadamente violento carregar fardos que não se adquiriram em lado nenhum. Sim, há sítios, internos, que se delineiam como lado nenhum. Não me agrada, não condiz com a cor com que pintei o meu tugúrio. 

O acaso de respirar, fundo (prerrogativa pessoal e intransponível) permite, muitas vezes, rasgar o meu nome ao meio. Constatações! Que hei-de eu fazer. Existo e ponto final.

Ana

16 novembro 2011

neverland


Será que está errado comer um chocolate de uma ponta a outra, sem hesitar depor, embrulhar e alojar no frigorífico? É verdade. Eu guardo os chocolates no frigorífico. Já me disseram que não devia. Mas se me sabe melhor assim, acabado de sair do frigorífico, vou continuar a infringir essa regra.

Gosto de chocolates acabados de sair do frigorifico.

Gosto de gomas umas atrás das outras.

Gosto de gelatina de tutti-frutti.

Começo a sentir que gosto de fazer listas em catadupa de coisas que gosto. A amnésia desvelada pode surgir. Acrescento, encolhida de cansaço, findo um pseudo-dia, cheio de horas, cheio de quadradinhos, que a amnésia está iminente. Ao senti-lo, assim, sobranceiro, devo escrever as coisas simples de que gosto. Preenchimentos de horas em que só se espera que o desígnio amador que defini para hoje, se dê por vencido, para que eu possa igualmente fazê-lo. À pressa, claro.

As listas vão definir a minha pessoal e intransponível Terra do Nunca. Lá recebo cartas fechadas, daquelas que têm um rebordo riscado de azul e vermelho. Vêm de avião. Acho eu. De certeza que vêm pelo ar. Não se me interessa o conteúdo. Interessa  simplesmente que essas cartas chegaram. Sãs e salvas. Não as abro. Sinto que lá dentro estão as minhas listas.

Senta-te no degrau. E demora-te. É mais rápido subir escadas, avançando degraus. Mas o topo das escadas pode esperar.

(sim, sou eu que o digo, muitas vezes, aos petizes)

O conteúdo fica vedado. Escolho eu. Na minha Terra do Nunca. Assim, faço-me crer passível de criar listas novas e, quem sabe até, recordar as que comecei por escrever quando ainda estava intimidada com o enrolado das coisas que adquiri para amortecer quedas.

O rebordo encanta por si só. Os carimbos imperceptíveis são magníficos, provando eles que as pessoas que se responsabilizaram pela carta foram cuidadosas – não se pode pôr tinta a mais, pois o papel pode furar. Mas vêem-se dedadas, grandes. Tem ar de quem são dedos de pessoa que tem dedos grossos. E as dedadas não são de sujidade vulgar. São de tinta, como já se estava a adivinhar. Cheira a papel antigo. É um papel robusto, que se fosse maior cobria-me com ele.

Ai. Na minha Terra do Nunca sou o Peter Pan e a Fada Sininho ao mesmo tempo. Acrescentem-se as listas que chegam por cartas por ler. Cartas que são vividas pelo toque, pelo cheiro, pelo brilho que fazem despontar nos olhos. Demoro-me indefinidamente, elegendo esse trejeito, pois ao abrir diz-se adeus ao viver assim pelo toque, pelo cheiro, pelo brilho que fazem despontar nos olhos.


somewhere down http://onelifeliveitandloveit.tumblr.com/

14 novembro 2011

palavras com atrelado


A musa transcende o intelecto. Devia proibir-me de bater caminho. Mas rendo-me à teimosia e volto. Impetrar. Pedir a projecção. Não, não consigo tirar de mim o velho acordo e sonho que vertem notas de 100 euros. Ficar a dever a alguém é injusto. É como o Amor e as imagens. 


(obrigada querida)
http://june-10.tumblr.com/


Amor e vamos! Ou será: amor e vamos? Há muitas formas. Até há o Amor? Vamos? Quanto maior o Amor, mais pontos de interrogação se põe.


Parece que o amor amarga, mesmo quando a proposta é amar de forma nunca antes vista, como quem está de atalaia no meio das espigas, aquelas por onde corria enquanto criança, escondendo-me de nada, inquietando coisa nenhuma, livre, satisfeita, plena de lhaneza. 


O amor, o indivisível. Quando se ama temos de ir. Há alguma coisa a trespassar. Aportar sem olhar para trás. Não vale fazer batota. Mais uma vez, eu ainda me vejo a correr no meio do milho, em que depois, no fim da trilha se debulhava a espiga. A seguir? Mergulhos em bagos dourados, num sol brando, que em conjunto garantiam a melhor massagem possível e imaginária. Anos a fio, perdi-me nesta brincadeira. Nesses dias, as bonecas deixavam de fazer sentido, a televisão era um quadrado sem piada nenhuma. E eu era invencível, só por que não concebia o infortúnio. E ainda bem.

O tempo não pára. E o sol decresce, entra-se num Inverno e lá puseram o Natal para que se acendam luzinhas de esperança do Verão outra vez, que fará crescer milho e uvas. Não chegam, não bastam. O sol é mais bonito. É autêntico. Embora se afaste e se ofusque de nuvens, existe perenemente. A culpa é das individualidades abespinhadas. Intolerantes. Por que ao ver o sol a ir-se, começam a sentir-se invernosos, não podem reconhecer as ausências. Não entendem a sensação de correr no meio de caminhos irrepreensíveis, que os homens e mulheres morenos traçavam para colocar as sementes das espigas, para que as crianças corressem por dentro e entre, escondidas de coisas de nada. O traçado não é feito quando o sol está forte. Isso, eu garanto. 


Se galgarmos para o Amor, sabemos bem que esse só se contraprova quando é difícil não pensar naquele ser, que odiamos profundamente, que nos lacerou a alma, que nos cegou, que dilacerou o coração, mas que sentimos uma saudade tremenda. A mesma que nos atira a procurar a mais pequena coisa que nos aproxime (nem que seja, na loja dos perfumes ir cheirar aquele frasquinho). Hum, cheirinho…


(…)


Está a ser bonito demais. Na vida dos comuns, que não sou eu, por que sim, por não querer, nem tampouco saber como se faz ou poder até escolher, as luzes de Natal, com que se enfeitam Invernos, são retiradas, mal enroladas e obviamente estragam-se. O indecomponível é falseado, atirando-o para baús que não se partilham com ninguém (só com própria sombra e a custo). O Amor, experimentado através do verbo Amar, cheio de luz, atrela um Go, que antes era um Vamos e agora fica por ser um rastilho. Juntem vocês por que eu não quero. Recuso-me.


Ana

11 novembro 2011

amar o impossível


Solicitação: escrever sobre amar o impossível.

Certeza em que o pedido se apoiou: o impossível é somente o possível com um im.

O que me provoca? Os im’s remetem à negação. E a negação é minha conhecida, dos meus estudos, das minhas vivências, quer seja do lado de cá ou do lado de lá. Os enredos de protecção são estupendos, mas isso não significa que coíbam e atraquem a imbecilidade humana. O ego. Esse caguinchas.

Amar o impossível pode ser uma certeza. Pode ser um arrasto. Pode tornar-se um buraco que alguém escava no centro da caixa torácica, mas só que é por dentro, ao fundo, vira-se à esquerda, estás a ver? É como acordar todos os dias, soerguer o corpo quente dos lençóis, e afinal ali à frente estava uma trave de pau-santo, escuríssimo, em que se dá uma paulada mesmo com o meio da testa. Oh hematoma!

Mas amar o impossível é possível. É a permanência do outro nas entranhas do buraco escavado com as próprias mãos que desenharam vocábulos, cheios de letrinhas insolentes. Se o Amor fosse o Trivial Pursuit, aquele jogo de cultura geral desprotegida, o amar o impossível seria mais ou menos como ter ganho os queijinhos todos, só que veio alguém e levou a rodela inteira. Aí tu pensas que sabias tudo, de uma ponta à outra e até foste o melhor. Porém, por lembrar o im, ignorando o possível, deixaste que algumas mãos escondessem de ti todas aquelas peças maravilhosas, coloridas, que te deixavam tão orgulhoso. Afinal, levaram-to. E só podes pensar ora bolas! interceptando a imagem pitoresca, o paladar feliz e o ar prazenteiro.

Há que agarrar essa bola. Pois faz parte do arsenal com que tu vais acabar de te demolir.  

Ana Luísa Monteiro

10 novembro 2011

axadrezado


“A partida de xadrez é disputada em um tabuleiro de casas claras e escuras, sendo que, no início, cada enxadrista controla dezasseis peças com diferentes formatos e características. O objectivo da partida é dar xeque-mate (também chamado de mate) no adversário. Teóricos do enxadrismo desenvolveram uma grande variedade de estratégias e tácticas para se atingir este objectivo, muito embora, na prática, ele não seja um facto muito comum, já que os jogadores em grande desvantagem ou iminência de derrota têm a opção de abandonar (desistir) a partida, antes de receberem o mate.”
Source: Wikipedia

source: obviousmag.org


O xadrez, ele próprio, surge como forma de desambiguação. Esse, por seu turno, pode referir-se a coisas a mais. Quando há coisas a mais, surgem confusões. E quando não se sabe ser coeso com o que vai por dentro, faz-se como as tartarugas e enfia-se a cabeça – dita a coisa racional do ser – na carapaça – que é um courato duro que nem pedra.

(Tive um cão que deu cabo de duas tartarugas enormes.)

Voltas e mais voltas, o xadrez, a desambiguação e a mania de que a cabeça escondida é racional, são elementos que fazem parte de um caixilho nada arrumado e que se pinta a cinza-escuro e talvez azul-marinho. É o mar zangado, o mar revolto, que permite o desabrimento de um espancar sempre na mesmíssima clave, sempre com o mesmíssimo dedo, até que, quando se olha, está decepado. Mas os que olham, nesta etapa, já nem sabem o próprio nome.

Conclui-se, balbúrdia e vacuidade do alcance de um aprazer, adormecer, resfolegar com genica e bem fundo.

A mim, tudo isto, me desalenta. E ponto final.

08 novembro 2011

pozinhos de prelim.pim.pim



Projectos a caminho. Sarrabiscos desenhados por cima de teclas - as que se somaram. Mas estas são as minhas.
já se ouve a Música, baixinho, muito baixinho. 
(no links attached) 

06 novembro 2011

quantas





O Manel tentou e eu também tentei. A esperança é como areia movediça. Agarra, prende e guarda. São essas mesmas palavras, as que tentei e errei, que me têm sob custódia.


A Anita e a Luísa
Foram as duas passear
A Anita tropeçou
E a Luísa ainda está no ar. 


04 novembro 2011

la collete des fleurs



Je pense que je peux écrire un désir que je porte dans mon cœur. 

Il est doux et rouge. 

Sa forme est similaire à la tournure des mes lèvres. 

Maintenant, je m’aménage. 


Merci,

Louise

trouvés dans http://chaeflor.tumblr.com/


03 novembro 2011

aqui

outra vez. outra vez. em círculos. dói muito. chateia.
mói o coração dos crentes. onde está a porta? cá dentro está
tudo no chão. está tudo numa inundação. preciso de uma porta.








as meninas, às vezes, fingem sorrisos e gestos. um dia destes... hei-de cancelar e voltar para valer.

01 novembro 2011

Paredes altas


Encontrei um caderno antigo. Amputei as duas primeiras páginas. Ânsia de escrita, por ontem ter entrado numa sala com paredes pretas. Afigurei-me lá dentro contigo, os dedos impressos, deslizando parede abaixo. Os meus. Só se ouve a respiração, vêem-se gotas enormes, opiniosas e vastas, em número. Seguras-me, não me deixas cair nunca. Seguras-me até quando não sabes o que fazer comigo. Perguntas-me. Sou eu e só acrescento Podes fazer o que quiseres. Numa espiral, rodopio, nos muros quentes e fortes. Olho-te, suspiro, arrepanho o cabelo, o meu. Sorrio-te e aterro no sítio onde reinventas o meu nome vezes sem conta. Repito o teu, vezes sem conta. Caímos vezes sem conta. Entoamos nas gotículas que escorrem pelas costas abaixo.

Estremeções. Adocicados e quentes. Fortes, compassados. O meu nome aqui outra vez.

Certezas e tudo ampliado ao espanto do encaixe que parece já estar definido. Parece que havíamos sido inventados, afinados, pejados para as mãos do outro. Vice-versa.

Dentro de um lugar comum que não sabíamos. Fechados com uma tranca na porta, batom vermelho, tremor nas pernas, medo e as gargalhadas. Êxtase e perplexidade, dentro o Amor. Fora a estafa e o sorriso.

De repente, batem à porta. Não estás. Tenho saudades tuas. Não te vejo há muito tempo. Imagino que a tua mota não (mais) parou e que vais sem mim. Tenho medo de andar de mota, proporcional ao tamanho ostentado desse aparelho. Combato a saudade, abdicando do músculo, mas não controlo o impulso do Beijo. O primeiro – suave a abrir trilho, sabendo-se sem volta, sem ordem, impossível de não ser. As tuas mãos. Anatomia para certificar que era eu. Ou tu.

Minutos contados, porta fora. Não sei de ti, mas de mim. Saio da sala escura, sentando-me na tua cadeira, a que abandonaste por não teres sido chamado. Foste de mota, mas deixaste o capacete na sala e o casaco tombado na minha mesa.

Sabes? Nem preciso fechar os olhos. Vejo-te perfeitamente. Será que consegues fazer o mesmo? Ver-me de olhos abertos, parada à tua frente, ajoelhados de fronte com questões de resposta simples. Tudo certeiro.

Bateram à porta. Duplicado. O olhar fugiu para lá. A música caiu. O inexequível sem dias contados concretiza-se. Afinca-se nos segundos. Então, foste, sem o capacete e sem o casaco e serraste os olhos. O vento magoa. Eu tranco a porta.

Continua a saudade. A minha. Mas a música caiu. É insuportável ouvi-la cair. E acontece-se de quatro em quarto minutos. Vivo e morro. Iteração da queda. Não consigo. Então, fico aqui, banho as mãos e a cara. Sem batom, sem rímel, mas olheiras de não passar uma noite longe deste abismo dobrado que nos assiste.

O que vale é ter comigo, ainda, em todos os momentos, algo que te pertence, que sou eu, a que abdica de ti, sem me desamarrar, sem negação, sem ausência. Abnegação e liberdade. Tão distinto e tão mais nobre que a resignação que por momentos ponderei, tentando imaginar. Um borrão.

Abnegado e livre. Tal qual todas as vezes que te toquei.

1.11.11 (equals V)

Ana