Encontrei um
caderno antigo. Amputei as duas primeiras páginas. Ânsia de escrita, por ontem
ter entrado numa sala com paredes pretas. Afigurei-me lá dentro contigo, os dedos impressos,
deslizando parede abaixo. Os meus. Só se ouve a respiração, vêem-se gotas
enormes, opiniosas e vastas, em número. Seguras-me, não me deixas cair nunca. Seguras-me
até quando não sabes o que fazer comigo. Perguntas-me. Sou eu e só acrescento Podes fazer o que quiseres. Numa espiral,
rodopio, nos muros quentes e fortes. Olho-te, suspiro, arrepanho o cabelo, o
meu. Sorrio-te e aterro no sítio onde reinventas o meu nome vezes sem conta. Repito
o teu, vezes sem conta. Caímos vezes sem conta. Entoamos nas gotículas que
escorrem pelas costas abaixo.
Estremeções. Adocicados
e quentes. Fortes, compassados. O meu nome aqui outra vez.
Certezas e tudo
ampliado ao espanto do encaixe que parece já estar definido. Parece que havíamos
sido inventados, afinados, pejados para as mãos do outro. Vice-versa.
Dentro de um
lugar comum que não sabíamos. Fechados com uma tranca na porta, batom vermelho,
tremor nas pernas, medo e as gargalhadas. Êxtase e perplexidade, dentro o Amor. Fora a estafa e o sorriso.
De repente,
batem à porta. Não estás. Tenho saudades tuas. Não te vejo há muito tempo. Imagino
que a tua mota não (mais) parou e que vais sem mim. Tenho medo de andar de
mota, proporcional ao tamanho ostentado desse aparelho. Combato a saudade,
abdicando do músculo, mas não controlo o impulso do Beijo. O primeiro – suave a abrir trilho, sabendo-se sem volta, sem
ordem, impossível de não ser. As tuas mãos. Anatomia para certificar que era
eu. Ou tu.
Minutos contados, porta fora. Não sei de ti, mas de mim. Saio da sala escura, sentando-me na tua cadeira, a que abandonaste por não teres sido chamado. Foste de mota, mas deixaste o capacete na sala e o casaco tombado na minha mesa.
Sabes? Nem preciso
fechar os olhos. Vejo-te perfeitamente. Será que consegues fazer o mesmo? Ver-me
de olhos abertos, parada à tua frente, ajoelhados de fronte com questões de
resposta simples. Tudo certeiro.
Bateram à porta.
Duplicado. O olhar fugiu para lá. A música
caiu. O inexequível sem dias contados concretiza-se. Afinca-se nos segundos. Então,
foste, sem o capacete e sem o casaco e serraste os olhos. O vento magoa. Eu tranco
a porta.
Continua a
saudade. A minha. Mas a música caiu. É
insuportável ouvi-la cair. E acontece-se de quatro em quarto minutos. Vivo e
morro. Iteração da queda. Não consigo. Então, fico aqui, banho as mãos e a
cara. Sem batom, sem rímel, mas olheiras de não passar uma noite longe deste abismo dobrado
que nos assiste.
O que vale é ter
comigo, ainda, em todos os momentos, algo que te pertence, que sou eu, a que
abdica de ti, sem me desamarrar, sem negação, sem ausência. Abnegação e
liberdade. Tão distinto e tão mais nobre que a resignação que por momentos
ponderei, tentando imaginar. Um borrão.
Abnegado e livre.
Tal qual todas as vezes que te toquei.
1.11.11 (equals V)
Ana
"(...) a que abandonaste por não teres sido chamado.".
ResponderEliminar"(...) algo que te pertence, que sou eu, a que abdica de ti (...)".
Sabes? Não queria ter-te conhecido agora...jamais a admiração, o Amor, o orgulho e a Confiança seriam os mesmos.
Porque estou sempre...porque te sinto...porque me orgulhas...muito.
eu sei!! eu sei! mto bem :)
ResponderEliminarmas e se fosse hoje, pq nao seria a mesma coisa? eu não murcho minha Mara! Jamais!
Porque ver-te crescer foi, é e será a melhor benção. Eu sei onde colocaste os pés...o que te arrancou pedaços, o que te doeu na pele e tudo aquilo que te fez sonhar. Obrigada por me permitires estar...
ResponderEliminarnem agradeças. fazes parte, de tudo. por isso... agradecimentos não são precisos. diz antes: "ai de ti que mudes, Fadinha do meu coração" :) Te amo!
ResponderEliminarMadrinha....AMEI..
ResponderEliminar:)* Thanks Fi! Eh pah, preciso é que assinem. Senão começam a ser anónimos em demasia. Depois até se pode fazer uma Leitores Anónimos (já deve haver)... Não nos metamos nisso, por favor! :p
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