20 dezembro 2011

isso é roubar




Há coisas que me deixam realmente desolada. Há ainda outras tantas que me deixam triste. O mais difícil é quando ambas dimensões coexistem sobre um mesmo assunto.

Escrever é um acto de partilha desmesurado. Quem escreve sabe. É igual para quem compõe música, pinta quadros (ou paredes), esculpe materiais, prevê cenários fictícios de personagens que tripudiam e promulgam em palco os ditos do autor, inventa uma ideia completamente nova. A inspiração é onde se beberica, levando apenas o que se vê ou cogita para dentro, provocando movimentos singulares que são esvaídos no que se põe cá para fora. Essa dita inspiração nada se prende com copiar ou rapinar da cama onde Musa se espreguiça. Seja na arte, seja na ciência, seja onde for.

Fernando Pessoa, o terrivelmente único afirmou:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


Ocorre-me por ser verdade, por sentir isto desde que comecei a amanhar, eu mesma, histórias na 2ª classe, que encantavam a minha Fátima, orgulhosa de mim e das magníficas composições sobre a Sereia.

Escrever, como o resto de toda a erudição, é um acto pessoal e intransmissível. Estar registado na Sociedade Portuguesa de Autores não deveria fincar isso. Devia ser assim. Sócrates, o Grego, chamou-lhe ética. Mas os Homens corrompem o cerne da máxima e obrigam a que essa seja assente em códigos. A palavra perde força nesse campo, por mãos de pessoas que desprezo.

Ter um blogue é ler mais blogues. Encontro coisas soberbas, havendo aqueles que visito com alguma regularidade. Para meu pasmo, vai-se falando de plágio aqui e ali. Ontem deparei-me com plágio, horroroso e barato. Descobri um flagício, resumindo o que sinto. Muito grave. Senti que me roubavam, a mim e ao autor, por saber o que é pôr a caneta a jeito, por conhecer a sensação do brotar de ideias nos olhos, visualizando a sua escrita no papel. Isso é pessoal e intransmissível. Não se faz, nem devia precisar de códigos de ética ou etiquetas.

Pois peço então, com jeitinho e por ser Natal: ide copiar ao raio que vos parta!

Ana

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