Gostava que os
meus recatos fossem validados por alguém que mos extorquisse, da ponta dos
dedos, sem vergonha, descaradamente. Não surge pois um apelo no que imprimo na
folha. É tarde e a cama parece não ter a minha forma. Quando isto se sucede,
lanço-me na dúvida de me ter desenformado do meu poiso, como quem precisa de ir
mudar alguma coisa. Baldeio-me em frente, aguentando a dor de costas, perdendo
noção do sono, sentindo uma pressão estonteante no ventre, seio das borboletas.
Que facúndia
vista que tenho daqui. O soma é a parte que sente quem se ensaia ser a alma. Patenteia-se
trejeitos de desassossego sobre o corpo que sente, afasta-se a vontade de
conhecer a originalidade do que é novo. Todas as mãos são diferentes, umas das
outras. Nem as nossas duas mãos, de nós, da mesma
pessoa, são equitativas, simétricas e imaculáveis. Quanto mais as mãos dos
outros corpos. Mãos frias ou quentes, macias ou ásperas, soberbas ou frágeis.
A incursão do
interior surge sempre pelos cinco dedos reditos em cada lado, que despontam em
disparidades chocantes, até na forma que nos tocamos. Acode a boca, rompendo as
afecções inquinadas pelos desbastes severos. Estes que intervêm, acutilantes,
para aferrolhar o corpo aquém do que foi tacteado. Insinuam segredos que ficam
por dentro, nas células do corpo que não quer mas que sente, solvendo a
realidade com trechos de martírio de quem sutura os lábios, para não falar. É
assim, é assim, para se ter como factível deleitar-se com a cortesia deixada na
língua, que veio dos dedos.
A contemplação enganadora
da celsitude só atesta o que se apanha com os dedos, com as pontas dos dedos.
São as superfícies que consomem a pele remanescente, inteiriça, asilo que se
agarra com deliberação e potestade selváticas. Vedamo-nos nem sei de quê. Nem
sei por quê. Há etapas em que se já se trouxe para dentro, criando assim
segredos perfeitos, que fazem imaginar outra dimensão. Quantas existências
desbravam ao mesmo tempo? Quantos palcos surra a fantasia?
As cefalalgias
do entendimento são a maior falácia com que me deparo. O enigma não é bicudo.
Já o percebi. Não é difícil. Nada mesmo. Bicudos são os dedos, aqueles e os
meus. Assevero inevitáveis. Não concebo outra absolvição para a apoquentação do
delito acometido pelo veio substancial. Remendar a boca não faz largar, só por
que se fixou as mãos num pico. Só se descobre a degustar de boca fechada,
repetida e circularmente. Macio, de facto, é. Mas esse deleite é idêntico à
substância que elege e rubrica os segredos.
Lu
eloquente. denso. lindo...:)
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