16 dezembro 2011

late at night


Gostava que os meus recatos fossem validados por alguém que mos extorquisse, da ponta dos dedos, sem vergonha, descaradamente. Não surge pois um apelo no que imprimo na folha. É tarde e a cama parece não ter a minha forma. Quando isto se sucede, lanço-me na dúvida de me ter desenformado do meu poiso, como quem precisa de ir mudar alguma coisa. Baldeio-me em frente, aguentando a dor de costas, perdendo noção do sono, sentindo uma pressão estonteante no ventre, seio das borboletas.

Que facúndia vista que tenho daqui. O soma é a parte que sente quem se ensaia ser a alma. Patenteia-se trejeitos de desassossego sobre o corpo que sente, afasta-se a vontade de conhecer a originalidade do que é novo. Todas as mãos são diferentes, umas das outras. Nem as nossas duas mãos, de nós, da mesma pessoa, são equitativas, simétricas e imaculáveis. Quanto mais as mãos dos outros corpos. Mãos frias ou quentes, macias ou ásperas, soberbas ou frágeis.

A incursão do interior surge sempre pelos cinco dedos reditos em cada lado, que despontam em disparidades chocantes, até na forma que nos tocamos. Acode a boca, rompendo as afecções inquinadas pelos desbastes severos. Estes que intervêm, acutilantes, para aferrolhar o corpo aquém do que foi tacteado. Insinuam segredos que ficam por dentro, nas células do corpo que não quer mas que sente, solvendo a realidade com trechos de martírio de quem sutura os lábios, para não falar. É assim, é assim, para se ter como factível deleitar-se com a cortesia deixada na língua, que veio dos dedos.

A contemplação enganadora da celsitude só atesta o que se apanha com os dedos, com as pontas dos dedos. São as superfícies que consomem a pele remanescente, inteiriça, asilo que se agarra com deliberação e potestade selváticas. Vedamo-nos nem sei de quê. Nem sei por quê. Há etapas em que se já se trouxe para dentro, criando assim segredos perfeitos, que fazem imaginar outra dimensão. Quantas existências desbravam ao mesmo tempo? Quantos palcos surra a fantasia?

As cefalalgias do entendimento são a maior falácia com que me deparo. O enigma não é bicudo. Já o percebi. Não é difícil. Nada mesmo. Bicudos são os dedos, aqueles e os meus. Assevero inevitáveis. Não concebo outra absolvição para a apoquentação do delito acometido pelo veio substancial. Remendar a boca não faz largar, só por que se fixou as mãos num pico. Só se descobre a degustar de boca fechada, repetida e circularmente. Macio, de facto, é. Mas esse deleite é idêntico à substância que elege e rubrica os segredos.

Lu

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