06 dezembro 2011

A questão da magia, versão pequena


Tudo se resume a uma questão de magia. E é tão simples. Nada tem que se relacione com o voar em cima de vassouras ou caldeirões cheios de misturas horrendas. Tudo é uma questão de magia. A erudição é a base de toda a magia. Daí que o nosce te ipsum é a porta que penso dever abrir-se para se fazer magia. No outro dia falava de epifania. Hoje fundeio-me em maiêutica socrática, do oráculo e da pedra filosofal. Nada se constitui por acaso, como se caísse aos trambolhões. Há pedras pequenas, que nos rolam para dentro dos sapatos, embriagadoras e acutilantes. Muitas vezes demora-se sacudi-las de lá, por incapacidade de pôr a uso a aerodinâmica, de não se puder tirar os sapatos. As leis impedem que a magia possa acontecer. Pois assim se nomeia então os ditos seixos. Só por ser mais fácil. Letargos preguiçosos que afastam que o acto de ficar atordoado não é totalmente cruel.

No entanto, existe a beleza, a que se busca incansavelmente, numa cadência circular, ininterrupta.

Muitos procuram a beleza física, mutável e ausente de concretismo. Mas que existe e por tal deve ser cuidada.

Na outra mão, há a beleza do ideal, ascética e que assoberba o intimo das gentes. Platónica de êxtase da apreensão do que é perfeito, em qualidade impossível, moradia da magia, inquebrável e que permite outros tantos infinitos. Mas recusando o que o corpo nos oferece – seja a dor ou o prazer – sabemo-nos sem limites internos, fazendo magia acontecer, pela força da erudição própria, íntima, intransitiva e sem forma de ser plagiada. Num salto quântico, pois bem não pretendendo eu fazer um tratado filosófico e não tendo igualmente atingido a tão ansiada epifania, ocorre-me a propósito do que assento aqui, o epónimo de Aquiles, manco por lhe terem rasgado o tendão calcâneo, com uma seta envenenada.  O herói morreu. Deixou o legado, que se põe a uso como representação da fraqueza. Só a beleza, esta última, do requinte ilustrado e impedido acarreia magia. A renegada e insolente beleza. Já me havia soado à mente, por leitura de um autor muito enaltecido por mim, que a culpa é da beleza. Por outras vias, contorcidas por mim e por doutos de tragédias, concluo eu mesma que é vero – a culpa é da beleza.

E assim, faço votos de que se possa fazer magia.

Sem comentários:

Enviar um comentário