Tudo se resume a
uma questão de magia. E é tão simples. Nada tem que se relacione com o voar em
cima de vassouras ou caldeirões cheios de misturas horrendas. Tudo é uma questão
de magia. A erudição é a base de toda a magia. Daí que o nosce te ipsum é a porta que penso dever abrir-se para se
fazer magia. No outro dia falava de epifania. Hoje fundeio-me em maiêutica socrática,
do oráculo e da pedra filosofal. Nada se constitui por acaso, como se caísse aos
trambolhões. Há pedras pequenas, que nos rolam para dentro dos sapatos, embriagadoras
e acutilantes. Muitas vezes demora-se sacudi-las de lá, por incapacidade de pôr
a uso a aerodinâmica, de não se puder tirar os sapatos. As leis impedem que a magia
possa acontecer. Pois assim se nomeia então os ditos seixos. Só por ser mais fácil.
Letargos preguiçosos que afastam que o acto de ficar atordoado não é totalmente
cruel.
No
entanto, existe a beleza, a que se busca incansavelmente, numa cadência circular,
ininterrupta.
Muitos procuram a beleza física, mutável e
ausente de concretismo. Mas que existe e por tal deve ser cuidada.
Na outra mão, há a beleza do ideal, ascética
e que assoberba o intimo das gentes. Platónica de êxtase da apreensão do que é
perfeito, em qualidade impossível, moradia da magia, inquebrável e que permite
outros tantos infinitos. Mas recusando o que o corpo nos oferece – seja a dor
ou o prazer – sabemo-nos sem limites internos, fazendo magia acontecer, pela
força da erudição própria, íntima, intransitiva e sem forma de ser plagiada. Num
salto quântico, pois bem não pretendendo eu fazer um tratado filosófico e não tendo
igualmente atingido a tão ansiada epifania, ocorre-me a propósito do que
assento aqui, o epónimo de Aquiles, manco por lhe terem rasgado o tendão calcâneo,
com uma seta envenenada. O herói morreu.
Deixou o legado, que se põe a uso como representação da fraqueza. Só a beleza,
esta última, do requinte ilustrado e impedido acarreia magia. A renegada e insolente
beleza. Já me havia soado à mente, por leitura de um autor muito
enaltecido por mim, que a culpa é da beleza. Por outras vias,
contorcidas por mim e por doutos de tragédias, concluo eu mesma que é vero – a culpa
é da beleza.
E assim, faço votos de que se possa fazer
magia.
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