13 setembro 2012

azáfama silenciada


Já era de dia. Havia ali uma azáfama fora do que era norma.

A norma. Coisa atulhada de régios pedaços limitativos. Não necessariamente odienta. No entanto, faz existir a necessidade de um desengano.

Tinha chegado, vestida de cor sólida. Preto. Não era hábito chegar a lado nenhum sem pentear o cabelo. Estava, porém, cansada e não se lhe acudiu à memória que devesse pentear o cabelo. Era como se retornasse não a casa – retornava à cama.
           
A cama. Lugar onde as pessoas dormem. Lugar do sonho e do pesadelo. Locus de controlo e descontrolo. Palco do amor, sexo e tragédia. Retiro vago, por vezes, até mesmo quando partilhada.

Lá a esperavam as pessoas que haviam sido, outrora, as pessoas do costume. Só que, naquele dia de manhã azafamada, as pessoas que dantes eram as pessoas do costume, estavam velhas, enrugadas, gastas. Estavam também elas de preto.  

Estar de preto, geralmente, está associado a um Luto. Esse, por sua vez, começa depois da morte. Associado à perda, onde seguidamente se processa um desligar, por sistema, vagaroso e doloroso.

As pessoas do costume estavam afónicas. Mas havia ali uma azáfama, um corre-corre lacerado. Eram as pessoas. De preto e afónicas. Em luto e sem voz que pudesse extravasar os seus gritos. Os risos.

A voz que conduz a paixão. Frémito no corpo. Tremeliques, impossibilitados por falta de ar, da perda.

Embalava-se nas palavras de humanistas desaproveitados e afastados. Ouvia uma entoada. Assim,

            O que lhe fizeram ao País. Ele tem tanta pena. O País.

E de repente, era de noite. E depois, já era de dia. Outro dia. E ainda havia muita azáfama enroupada a preto.

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