29 abril 2012

óculos de sol

por que raio se anda de óculos escuros no período nocturno dentro de um sítio escuro? só me ocorreu o síndrome Pedro Abrunhosa. ou então deve ser um forma de ocultar o que não se quer ver, nem mesmo quando se acendem luzes. as que piscam intermitentes.

por que raio há beijos por dar, gestos por ter e óculos de sol quando já está mais do que noite e escuro? sem luz, sem lua, sem lâmpada. nem falo do aladino. esse sabia mais do que a Lucia!!!

por que raio há rios que não se contem dentro de frascos pequenos? no mínimo seria um lugar comum. e talvez se pudesse esquecer de uma vez a contenda de um afecto empedernido diante dos olhos. os dos óculos de sol.

26 abril 2012

considerações nervosas

se o auto-conhecimento permitir digladiar o roer o gomo inferior da boca está feito o caminho para o saborear. o escopo será sempre o de olhar para o fundo - de ti.

25 abril 2012

do dia da liberdade



o blogue é meu. escrevo o que quero. graças ao 25 de abril de 1974. não estava em lado nenhum. eu nem existia. mas o valor já lá estava. 

tenho orgulho da ausência de tiros. e no vermelho dos cravos.
tenho orgulho das guitarras de Zeca Afonso. 
tenho orgulho na coragem de alguns que libertaram os outros.

tenho arrepios com a música do Paulo de Carvalho. 

gosto da liberdade como gosto de água. muito.

hoje muita coisa se disse. até vi quem citasse Adolf Hitler. vi também um enaltecimento a Abel Salazar. 
não compreendo como se sente ainda que a estupidez humana, que aparece sim, só pode ser cosida à força e na anulação dos motivos dos outros. ou de todos. de nós. 

é o certo e o errado, que podem ser empecilho.
é a linha invisível entre o eu e o tu.
é o calcar sem ver.

mas isso tudo é viver.

se não soubermos, ensinemo-nos uns aos outros. a ser melhores. mais humanos. mais reais. mais bonitos. mais inteiros de consistência.
se passarmos das marcas, mostremos uns aos outros as linhas que estavam apagadas.
hoje é da dia da liberdade. e para mim, que escrevo por que aqueles homens levantaram armas enfeitadas de cravos, a liberdade é água e ar. é paz de espírito. é a felicidade.

e sim, é difícil!


Ana

22 abril 2012

o olhar dos porquês


Nem esperei encher o estômago. Tudo se tornou numa questão de esvaziar – o peito, os traços da face, o olhar. Sai uma certeza para a minha mesa e o empregado vem rápido demais. Traz-me água translúcida, mais tarde poluída a ginger ale, dentro (o costume) de uma vasilha que, de resto, inchava, desinchava e pronto – mantinha-se colorida, sempre com aquela palete de cores.

Nem esperei levantar-me da cadeira, pois a disciplina é de rodopiar vezes sem conta. Há sempre histórias dentro das histórias. Dentro desta incapacidade de esticar as pernas, reside a fábula dos bichos-carpinteiros, que não dão ponto sem nó. Nem com dó. Dessa forma trapaceira fazem colar a parte plantar do pé, apoiada num par de sapatos digno da minha caminhada, girando compassadamente.

Nem esperei elevar o olhar. Sempre que o fiz, evadi-me das coisas certas. Dentro desta história, faço copiar/colar ao reverso da moeda, talvez de bronze. Os tons quentes que se perdem num desgaste de trocas fortuitas.

Para onde foi a espontaneidade? Perguntei eu a um grupo de estudantes universitários das coisas do comportamento, a meio da semana. Respondi e senti na pele. Talvez até na polpa. Baseio a resposta naquilo que me haviam dito. E que li, conservando na mente um fiapo de perguntas a fazerem cócegas psíquicas.

Sentada sem nada esperar, revoluteando num corre-corre de fuga ávida, após nutrir-me de um número imbecilizado de cubos de gelo, desabafei num suspiro o que o olhar dos porquês me assevera. Isso basta para muito, sem chegar para nada.




Sem nada, mas agora sim à espera: Para onde foi a espontaneidade? 


Ana

19 abril 2012

whisper



Conta-me os teus medos. 

Sussurra-mos no colo.

Prefiro os teus medos nus e cruentos em cima da minha pele, do que fabules que não os tens e a seguir só consigas compor a ausência da tua língua.


Lu

16 abril 2012

de pé


TREE, n. A tall vegetable intended by nature to serve as a penal apparatus, though through a miscarriage of justice most trees bear only a negligible fruit, or none at all. When naturally fruited, the tree is a beneficient agency of civilization and an important factor in public morals.
- Devil's Dic.

society6.com

 reservo-me o direito de me declarar, publicamente, uma árvore. das grandes.

14 abril 2012

da liberdade



A rapariga do vento não se lembrava das horas. 

thelittlemoomintroll.tumblr.com
O relógio de parede há muito havia parado. Nem para a frente, nem para trás. Ele permanecia, inerte, fitando-a da parede. Sim, o relógio olhava-a. A ela, meia despida. Vestia apenas uma camisa longa e alva. Cobria-se de um felpudo azul. Apesar de tal averiguação, a rapariga do vento sorria ao relógio. Aquele que estacionou, a olhar para ela. Talvez a julgasse lá do alto da parede. Amarela? Claro! Talvez decretasse não poder dar-lhe as suas horas por ela ser dupla, naquilo que concebia, congelado na sua petrificação.

Ela, a rapariga do vento! Era duplamente culpada, de facto. Por ela e a sua capacidade de escolher sempre a liberdade, conjurando a consciência a uma garrafa de água benta, mal abençoada.

A liberdade é como o vento. Não é gémea da ausência de consciência. Essas duas medidas, tantas vezes se contrapõem. 

A dita rapariga olhava o olhar daquele relógio, que insistia em dizer 10.05h. Sabia que prisioneiro tinha diante dos pés – o da objecção por incapacidade de ser livre. Mas ela própria prisioneira estava – da consciência solta ao vento, algemada nuns braços nus.

Ana

12 abril 2012

ultra.burla


“Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!”

José Régio

10 abril 2012

serei | a



“I must be a mermaid, (…). I have no fear of depths and a great fear of shallow living.”
Anaïs Nin

Pois é. 

Talvez por que agora sim, está a chover e a água refresca mergulhos maiores. Acompanha, também, a incauta certeza, apenas redita na perceção, de estar regada de pingos salgados, que não saem da pele.

É esta ideia, de não sair, de não vir à tona do mar, escapando ainda assim. As sereias escapam-se ainda assim – sem pernas, nadando no fundo de mares revoltos.

No imaginário, será sempre um lugar calmo. Mas será mesmo?

Ajusto as antenas, nesta folia que é andar à procura do tempo. O imaginário jamais se diz nas palavras. É um sítio sem contorno, que mesmo quem o imagina, não pode senão ter um delicado reflexo. 

Ana

09 abril 2012

novelos


Emaranhamentos. Quem não os tem?
pauart.deviantart.com

Há coisas que são como novelos. Ou melhor, como um novelo. Enleiam-se e enleiam-se. Fica-se lá por entre o fio, felpudo, colorido, quente. Ninguém depõe um bom novelo, sem que pelo menos o pense, o que leva a deleites, mais ou menos, idealizados. Na mente de cada um.

Seguidamente, surgem os sonhos. Uns sonham de forma tão clean, que aparecem os desenhos concretos dos desejos. Outros sonham com figuras complexas dos seus desejos. O importante é o desejo, aquilo que instiga o impulso mais básico. É premente estar atento. Pois há negações cálidas do movimento, que se podia prever de fronte o desejado.

Muitas vezes, a direcção muda, drástica e teatral, afoitando-se o delinear do fio enovelado. Enrola-se, logo fazem bolas. Coisas circulares. Mais uma vez, ora pense-se, quem não gosta de coisas circulares? Não conheço. Reinventa-se de que forma colorir um espaço claustro.

O que quero dizer com isto?
Pois bem, o barco desatracou e foi água abaixo. Mais uma vez tomei a dianteira e discuti com o comandante do navio, fazendo equipa. Não se impediu que água abaixo corresse. Tentamos. Podia falar do medo. É assustador ver barcos a ir por água abaixo. E estar lá, no barco. Não me parece fortuito.

Reinvente-se.
Ciganos, lenços coloridos a esvoaçar, animais imponentes, anões, música estridente, cartas de tarot, roda da sorte, mulheres pintadas, crianças a correr. O herético, mais uma vez. E volto lá, desafiando a cruz.

Ora.
Os novelos são bonitos. Bolas rolam, porém. Tudo isto para dizer que gostava imensamente de observar, de onde quer que me sente, o deliberar de cores dos mil e um novelos, de quem quer que seja, a que horas seja. O tempo é apenas um momento que se definiu. 

Ana

04 abril 2012

Sigmund



sabes caro Sigmund!? 

 

como dizia o Kraus "existem imbecis superficiais e imbecis profundos". sendo que os profundos insistem permanentemente na mesma lorpice, tornando-se previsíveis. 

 

querido Sigmund. depois de trabalhar vou ouvir música da boa. na rua. vens?

 

 

03 abril 2012

palavreado

- Eu disse que tu... custa-me tratar-te assim... tinhas dito que eu era uma... Não me lembro (risos) - escondendo a face, insistindo para que os seus olhos não se entregassem no olhar dela.

- O que é que eu disse afinal? - sorrindo acerca da importância das palavras, tema tão assente naquela mesa gasta. Na sua mente já nada resta de dúvida no que concerne a necessidade de articular os sentidos. Era como uma gota de água, insistente e pausada. Límpida.

- Disse-lhe que tu disseste que eu era do... Dominadora! - olhos escondidos, riso abafado pelo casaco preto. Braços compridos. Abraçam apenas a vergonha de não puder dominar quem, sem querer, a sentenciou. De novo!

- Ok. E ele? - sem dó nem piedade.

- Ele tacteia eu não ser impossível de dominar. E deseja-me. - cheia de lata.

- E tu? - dando a volta ao texto, por antecipação da sua fragilidade. Destapada.

- Eu jamais o deixaria. Dominar-me, entendes? - posfácios descarados -Mas mostro-lhe um pouco. Gosto que ele me diga tontices.

- Basicamente, estás nua. Só que ainda não sabes. Dá-te tempo. - diz a sapiência de quem já leu livros a mais.



01 abril 2012

sapatilhas

estranhos momentos
por entre os quais
ouvir o riso
enche de calor
peito fora
braços presos por dentro.

há como que
linha ténue
unindo laços
que tecem promessas
jamais ditas
se não numa candura muda.

sentir meninice não é calçar sapatilhas.