Curvilínea.
Desesperadamente curvilínea.
A linha do
horizonte. A cabeça da gata preta. As costas que estão cansadas. A massa
cinzenta. A vida sôfrega, desajeitada.
Demasiadamente
curva. Apertada sinuosidade, em que pouco ou nada já é espanto. Isso seria que
de quando em vez os cigarros não tivessem mau cheiro. Ou o álcool excessivo não
provocasse ressaca. Ou que os pensamentos parassem, sem se dar conta. Poderia ser
uma recta, de quando em vez, com objectivos precisos, presos à mão de semear. E semear-se-ia coisas
simples, elegantes, exactas.
Mas é a
porcaria da curva que ofusca. Não se deixa de pensar nela, num movimento obsessivo
inglório, como se tratasse de uma nublosa busca por conceitos dos filósofos. Posso
culpá-los, dilacerando toda a dimensão insubstituível do cogito ergo sum, preso pelas pontas. Só é necessário por se
coadunar com a pressão exercida por balizas da humanidade.
A calma, a
dita da paz, precisa mais de lobotomias do que se possa crer. Esse sítio difícil
de persistir, oficializa uma decisão imperativa da convivência com o olhar a
recta, ver-lhe o fim claríssimo, intrincar-lhe as palas escuras, largar o que há em vão e respirar com a barriga. Sem obcecações apartidárias e grandiosas. Essas
são as da filosofia e respiram poemas por estrofes infinitas a escrever.
Por isso,
talvez as folhas soltas, páginas por plenificar não possam obliterar-se – são crimes
imperfeitos, indigentes, estritamente necessários.