10 outubro 2013

uma das milhares ironias que se podem encontrar na humanidade I

Condenados ao esquecimento. Sim, esses amores impossíveis estão condenados e depois acabam por serem esquecidos e passados adiante.

Mas...



Lembras-te como ela te parecia perfeita? Recorda-te que tudo aquilo que se podia definir como irritante ou doentio era magnificiente e fresco em tudo o que ela podia trazer ao mundo de novo, principalmente naquele riso apalermado que ela usava porque não passava disso? Será que consegues lembrar-te de como a achavas bonita com aquele vestido às bolas, solto, com fundo vermelho e ela a usá-lo porque era o estilo dela usar vestidos com bolas, porque achava piada e tu achavas continuamente que ela era linda? E quando ela insistia em mostrar-te albuns de fotos das viagens que fez sozinha e tantas vezes sonhou ter-te com ela, embora nem sequer te conhecesse porque ela sabia que eras tu, eras tu? Ah, contaste-me que uma vez ela adormeceu no teu peito naquele parque onde foram fazer um pic-nic, quando tu estavas com pressa de ir para casa e ela, gentilmente, se babou na tua pele e tu achaste-a um anjo caído em cima de ti, apesar de ser um anjo babado. E também me contaste que, com ela, se fosses fotógrafo, havias de gastar todos os rolos de fotografias que encontrasses (ou pudesses comprar) a fotografá-la várias vezes ao dia, em tudo o que era sítio.  

E tu? Lembras-te como ele te deixava o peito aos pulos cada vez que o vias? Consegues ter noção de quão bom era apenas admirá-lo, enquanto ele falava sem parar ao contar-te aquela vez em que ele fez mil e uma coisas, mesmo que essa história já te fosse familiar e não podias interromper, porque tudo o que havia de melhor era ouvi-lo e ouvi-lo sem parar? Gravaste bem aqueles momentos em que ele te trazia pequenos e simbólicos presentes, como daquela vez ele encontrou na praia uma pedra de extrema pequena dimensão, que era um coração, e tu ficaste tão embevecida que casarias com ele naquele instante, naquela praia, quando antes nem sequer acreditavas no casamento? É, tu dizias vezes sem conta que ele te protegia, que sentias que o abraço dele era o teu sítio para sempre. Contaste-me aquela vez em que tu prometeste que o amarias para sempre, apesar de todas as adversidades que podiam passar, amá-lo-ias para sempre.

Lembras-te?

Amores impossíveis. Pessoas reais a fazerem correr tinta que lhes restará na memória. Mas apenas após os sorrisos se tornarem lágrimas e as lágrimas tornarem-se desconforto, ausência de vontade, ausência de si mesmo, bandalhice, gargalhadas e por fim... Nada. Nada, mas mesmo nada mais do que isso.

Porém, esses não deixam de ser factos aos que, depois de tudo, se tem a amabilidade de baptizar de “amores impossíveis”.


Que irónica estupidez!