10 maio 2014

não sou fã. muito menos de pessoas-rápidas.

Sempre gostei de definições. Quando era pequena, lembro com alguma meiguice até, que lia o dicionário. Não sei dizer qual. Já nem tenho esse dicionário

As palavras têm sido importantes ao longo do meu caminho. Às vezes, tenho na ideia se seria capaz de estar um dia inteiro em silêncio. Depois, tenho a certeza de que seria uma experiência tortuosa. Gosto de falar. Gosto de ouvir as palavras dos outros. 

Hoje, como mote de muitos outros dias desta vida atrapalhada (mas divertida) que levo, acordei com um eco na mente. A palavra erudição não me sai da cabeça. Sim, tenho sido um caso raro de uma doença, igualmente excêntrica, de me apaixonar perdidamente por certas palavras. O processo é escorregadio, porque levanta-se uma palavra apenas e sou capaz de a pensar ao limite. Penso na sua definição, na etimologia dela mesma, nas partes constitutivas e fico totalmente presa a tudo isso. Muita vezes, nem sei explicar como se esvai. Infelizmente, já não escrevo todos os dias. A vida tem estado a distrair-me. 

O ribombar de hoje é a palavra "erudito". Não procuro poetas que falem nisso. Muito menos filósofos. Era preciso pensarmos mais pela nossa cabeça. Era preciso abolirmos alguns ídolos do altar. Será um problema individualista que trago comigo? Não sei. Não me preocupa tamanha acusação. Sei admirar os outros sem deixar de me prezar. 


O erudito é aquele que tem grande conhecimento. Pois é. Não será aquele que vê imenso cinema europeu e depois lhe dá uma nota qualquer, ficando por ali. Estático e inerte às sensações todas que aquela história contou. Ver o Almodóvar só por que o homem tem ar de louco e faz filmes com cenas estranhas e mulheres cheias de capas, não me parece válido. Eu vejo filmes dele. Gosto muito dele. Ele provoca-me emoções, sendo que essas são sempre perturbações da homeostasia. Quer sejam boas. Quem sejam más. 





O erudito é o consistente. Não segue ídolos. Segue uma sede invencível de saber. Preenche-se de tudo. Cisma por tudo e por nada, em perceber o mundo só por que ele está ali. O erudito não idolatra. Tem ânsia

Quem tiver dois dedos de testa, já entendeu que estou aqui a empinar o nariz. E estou, é inegável. E nada tem de ver com filmes europeus. Para europeia já chego eu. São as paixões que não me largam. As palavras. As ideias. As cismas. E os escárnios que rebentam em mim quando olho, de cima, para pessoas formatadas. 


Sem comentários:

Enviar um comentário