29 janeiro 2014

aulas a preço de chuva

apanhei chuva, tanto hoje, tanta ontem. apanhei chuva mas ela não me apanhou a mim. fui rápida demais, assertiva em excesso, fulminante como um raio por entre as gotas. os raios não se molham. são energia.  

apesar disso, doem-me os ossos. sobretudo (não tenho nenhum) tenho podido correr bastante, ver bastante, ouvir bastante, falar bastante. lido assim, tenho bastante. dá para rasgar um sorriso. dá para dar uma gargalhada ou outra. 

e dá para concluir que mesmo no nada se ganha bastante. a palavra de ordem é caminho. sem elas nem eles. sem sonhos de 0,79 euros e desconto em cartão. não sei se é assim. deixei de ver tv. deixei de ir ao pingo doce. deixei de me preocupar com preços. embora não me tenha sido a sorte grande, saiu-me o bastante. 

e é assim que vivo. do bastante, não do que resta. vivo do bastante que posso ter. aos olhos de muitos é tão escasso e mísero. às minhas coisas bastantes - mãos, agenda, bolsos, carteira, gavetas, arrumos, adornos, no banco do carro - dou-lhes relevo cúbico. nada escapa. e assim nada sobra. não há sobras. nem tempo para sobras. 

é que estou a aprender a andar de bicicleta. e tenho um grande professor - o pneu furado. pelo que me constou esse também deu aulas teórico-práticas aos posts ego-concêntricos. não é meu hábito, mas a justificação fugiria ao bastante com que me divirto todos os dias. 

assim, anuncio que se vende bastante. dar já não dá com nada. com tanta redundância numa frase só, despeço-me  cordialmente. vou andar de bicicleta. à chuva. 

até quando? isso agora é que era bom. não digo. só porque não sei. a menos que me paguem. 








26 janeiro 2014

Constância

que horas são?
quando tens de parar para pensar
quando tens mesmo de tomar banho
quando tens de fazer as contas

que horas tens? 
quando sentes tudo embutido 
quando sentes tudo baço 
quando sentes o sangue frio

que horas serão?
quando entras pela porta
quando corres do norte ao sul
quando vês as duas estradas

que te dizem as horas?
estará certo e errado
sem pertença de tipo nenhum
que afinal cose e desfia

nessa cadência
as horas
dizem nada e coisa nenhuma. 


04 janeiro 2014

estupidez das horas

olho para as horas. acabo por ver sempre mais do que números-guia.

vejo aquilo que não me apetece ver. faz pensar que tinha alguma lógica correr o mundo ao contrário para se ficar sempre ali ou mais atrás. quem sabe?

mas e as metas? a minha é fácil - é esta do tempo em que sou aqui a edificação premente do que trago nas mãos. e são tantas as coisas que vou ter de as pousar.  

hoje posso tocar-te pela última vez. e até já te dei os cravos. estão aos teus pés. 

só posso dizer-te que me deixas uma herança fantástica - uma infindável colecção de memórias irrepreensíveis, felizes e consistentes. 

o longe não existe contigo Padrinho. 

"Ping – Promete-me que nunca me vais padronizar."

afinal era tudo uma questão de príncipe encantado, armado em salvador de uma mulher que nunca precisou disso. 

afinal era uma questão fácil. tinham tudo. 

MAS

ele padronizou-a. 

ela não admitiu. 

e ele partiu-lhe o coração. 

e ela desapareceu. porque corações como o dela partem de verdade por serem de verdade. 

ele ficou chocado. 

ela ficou... 

nada importa. ficou assim - tudo num perfeito silêncio de uma infindável estupidez de quem, por tão afortunados serem, se deixou mutuamente.