24 maio 2014

Ouvi um uivo já era de dia

Ultimamente os abraços são mais profundos. Desde a tua ida, os olhares são mais demorados, uns nos outros, com sorrisos lacrimejantes.

Inevitável falar de saudades. 

Tinhas a mania, tinhas a mania Elisa. Mas tu tinhas todos os motivos para ter a mania. Tinhas a mania de que os teus é que eram bons. 

Passam dois anos e reverberam palavras, misturadas com essa tua gargalhada, nas minhas mãos. Se te pudesse dizer que não sei que lhes fazer, quase que aposto que te ias rir de mim. 

É impossível não ter saudades tuas. Elisa. 


18 maio 2014

fugaz eternidade

Ela dizia-lhe que lhe estava grata. Menos pelas mentiras. 

Ele não dizia nada. Apenas lhe murmurava ao ouvido que não tinha tido outro remédio.

Ela virava a cabeça. E ele garantia que, apesar de tudo, ela era a mais bonita. 

Nunca mais se viram. 

Ele continuou com as mentiras. E ela com a beleza. Afinal eram eternos. 





12 maio 2014

imago

gostei-lhe as mãos, 
as que concluíam os braços
falando lentamente 
sobre coisas que eu não sei

gostei-lhe a voz
pus os óculos de ver
fixando a calmaria 
e o pejo desafinado 

gostei-lhe os lábios
que desenhavam um rasgo
mais ou menos constante
passando ao largo

existem hiatos na vida
moratórias do destino e 
há coisas que sei
outras talvez imagine. 





10 maio 2014

não sou fã. muito menos de pessoas-rápidas.

Sempre gostei de definições. Quando era pequena, lembro com alguma meiguice até, que lia o dicionário. Não sei dizer qual. Já nem tenho esse dicionário

As palavras têm sido importantes ao longo do meu caminho. Às vezes, tenho na ideia se seria capaz de estar um dia inteiro em silêncio. Depois, tenho a certeza de que seria uma experiência tortuosa. Gosto de falar. Gosto de ouvir as palavras dos outros. 

Hoje, como mote de muitos outros dias desta vida atrapalhada (mas divertida) que levo, acordei com um eco na mente. A palavra erudição não me sai da cabeça. Sim, tenho sido um caso raro de uma doença, igualmente excêntrica, de me apaixonar perdidamente por certas palavras. O processo é escorregadio, porque levanta-se uma palavra apenas e sou capaz de a pensar ao limite. Penso na sua definição, na etimologia dela mesma, nas partes constitutivas e fico totalmente presa a tudo isso. Muita vezes, nem sei explicar como se esvai. Infelizmente, já não escrevo todos os dias. A vida tem estado a distrair-me. 

O ribombar de hoje é a palavra "erudito". Não procuro poetas que falem nisso. Muito menos filósofos. Era preciso pensarmos mais pela nossa cabeça. Era preciso abolirmos alguns ídolos do altar. Será um problema individualista que trago comigo? Não sei. Não me preocupa tamanha acusação. Sei admirar os outros sem deixar de me prezar. 


O erudito é aquele que tem grande conhecimento. Pois é. Não será aquele que vê imenso cinema europeu e depois lhe dá uma nota qualquer, ficando por ali. Estático e inerte às sensações todas que aquela história contou. Ver o Almodóvar só por que o homem tem ar de louco e faz filmes com cenas estranhas e mulheres cheias de capas, não me parece válido. Eu vejo filmes dele. Gosto muito dele. Ele provoca-me emoções, sendo que essas são sempre perturbações da homeostasia. Quer sejam boas. Quem sejam más. 





O erudito é o consistente. Não segue ídolos. Segue uma sede invencível de saber. Preenche-se de tudo. Cisma por tudo e por nada, em perceber o mundo só por que ele está ali. O erudito não idolatra. Tem ânsia

Quem tiver dois dedos de testa, já entendeu que estou aqui a empinar o nariz. E estou, é inegável. E nada tem de ver com filmes europeus. Para europeia já chego eu. São as paixões que não me largam. As palavras. As ideias. As cismas. E os escárnios que rebentam em mim quando olho, de cima, para pessoas formatadas. 


08 maio 2014

tenho um sofá novo

Talvez nem todos saibam o quão Psicóloga Clínica sou. 

Pois aos que nem sequer sonhavam que a Ana que tanto procura o Tempo é dessas andanças e aventuras, cá está: novo blogue: O Blogue do Sofá! O meu mais novo menino está alojado, confortavelmente, no site www.thecouchconcept.com. 

O projecto é meu. Mais à seria. Mais profissional das coisas da mente. Aqui continuarei a contorcer palavras como me apetecer. 

Os bebés estão aqui em baixo:

http://www.thecouchconcept.com

http://www.thecouchconcept.com/-blogue-do-sofaacute.html





Agora é entrar e sentar. 


04 maio 2014

uma tosta de felicidade

A felicidade é bonita. Há tratados sobre a felicidade. Não sei de certeza, mas deve haver um Happiness for dummies nas prateleiras das bombas de galisona deste mundo todo. Frases feitas e constante busca pela dita da felicidade mais músicas para todos os gostos. E mais e mais filmes e documentários. 

Ora, para mim felicidade era asfaltarem a Rua da Maternidade no Porto, Portugal. Mesmo ali em Cedofeita. Era isso e uma caixa de Guyllian. 

O velhote dizia que a felicidade era o que cada um queria que fosse. Parece-me que o meu jogo de cartas mudou. Agora só quero coisas simples. E fáceis de pedir. 

No entanto, nem assim. Nem assim. 


(este post foi o mais perigoso de todos)

Lu