E assim, nos teus quase seis anos, és loirinha e tens cachos nas pontas dos cabelos. Os teus olhos são completamente verdes e as tuas mãos delegadas. Como as minhas. Abraças-me depois de correres pelo jardim, dizendo-me coisas abstratas, sonhos de criança, estórias que inventas no momento.
És tão bonita. E tão querida. Ouço-te, sem perceber o que estás a dizer, ficando estupidamente enternecida e assustada com o pouco que posso intuir.
Chamo por ti, sem dizer o teu nome. Não sei o teu nome.
Anda cá.
Ao ouvires a minha voz, rodopias sobre um pé. Enquanto isso, o tempo fica em suspenso e eu pairo sobre nós.
Penso em dizer-te assim.
Faz-te valer de ti mesma. Respeita as pessoas e a vida. Nunca te esqueças de começar por te respeitar a ti. Só assim serás feliz. Concentra-te naqueles que amas e que te devolvem amor de forma livre e verdadeira. Sorri as pessoas com quem te cruzas. Sê feliz todos os dias. Não te importes com o que os outros dizem ou pensam de ti. Se souberes quem és, está tudo bem.
Enquanto, revejo cada pensamento, tu corres para mim, de vestido branco, de alças, algo rodado. Tens umas sandálias amarelas mostarda. Os teus cachos loiros saltam, brilhando ao sol morno. Sorrio-te, de boca aberta, sentada numa cadeira de jardim. Estou descalça, com uma saia verde.
Cais. Tropeças sei lá em quê. Bates com a cabeça numa pedra. Morres-me diante dos olhos. Esfumas-te derradeiramente. Eu corro, aos gritos, sem saber que nome te chamar. Nada resta de ti. Desapareces inequivocamente e eu não te consegui abraçar.
Mato-te, assim, todos os dias. Sem te dizer o que tinha para dizer.